H. P. Lovecraft é um dos escritores mais conhecidos dentro do gênero do horror no mundo ocidental. Suas criaturas míticas e a forma de criar um terror atmosférico foram reutilizadas nos anos seguintes por diferentes gerações de escritores, que por sua vez influenciaram diretores de cinema, jogos de RPG e videogames. O sucesso que seu nome carrega, embora tenha sido póstumo, é deveras notável. Lovecraft é conhecido até mesmo por pessoas que jamais tiveram algum contato com suas obras, como se o escritor ultrapassasse invisíveis barreiras midiáticas e se espalhasse por diversos gêneros artísticos. Sua deidade mais conhecida, Cthulhu, se tornou seu maior símbolo, estampando selos, aparecendo em tatuagens, papéis de parede, camisetas e até mesmo virando chaveiro ou pelúcia. Entretanto, por anos foi ignorado um lado sombrio de Lovecraft que, por incrível que pareça, sempre foi muito explícito, com exceções de algumas edições de livros que preferiam suprimi-lo. Estamos falando do ódio de H.P. Lovecraft aos estrangeiros, a todos aqueles que não pertenciam a uma casta pretensamente ariana na sociedade estadunidense da década de 1920. Este ensaio não busca simplesmente problematizar o racismo dentro da obra de Lovecraft. Busca também indagar se a xenofobia faz parte da criação narrativa do autor. Suas linhas são recheadas de poesia, que, por meios líricos, descreve de forma preconceituosa as minorias imigrantes que habitavam os Estados Unidos no início do século XX. Teria Lovecraft se utilizado do racismo como uma ferramenta literária? “A população é um emaranhado e um enigma incorrigível; elementos sírios, espanhóis, italianos e negros chocam-se uns com os outros, e fragmentos de cinturões escandinavos e norte-americanos não vivem muito longe. Trata-se de uma babel de sons e sujeira lançando exclamações estranhas para responder ao barulho das ondas oleosas nos molhes imundos e às ladainhas monstruosas dos apitos do porto. Muito tempo atrás se vivia um quadro mais aprazível, com marinheiros de olhos claros nas ruas mais abaixo e lares de bom gosto e solidez onde as casas maiores acompanham a colina. […] dessa confusão de putrescência material e espiritual, as blasfêmias de uma centena de dialetos investem contra o céu. Quando as hordas de vagabundos vagam sem destino gritando e cantando pelas vielas e ruas movimentadas”.
Editora: Editora Telha
Categorias: Literatura

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#H.P.Lovecraft, #Horror, #Racismo, #Teoria Literária

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ISBN: 9786589880882

IDIOMA: Português

NÚMERO DE PÁGINAS: 88

NÚMERO DA EDIÇÃO: 1ª Edição

DATA DE PUBLICAÇÃO: 2022

H. P. Lovecraft é um dos escritores mais conhecidos dentro do gênero do horror no mundo ocidental. Suas criaturas míticas e a forma de criar um terror atmosférico foram reutilizadas nos anos seguintes por diferentes gerações de escritores, que por sua vez influenciaram diretores de cinema, jogos de RPG e videogames. O sucesso que seu nome carrega, embora tenha sido póstumo, é deveras notável. Lovecraft é conhecido até mesmo por pessoas que jamais tiveram algum contato com suas obras, como se o escritor ultrapassasse invisíveis barreiras midiáticas e se espalhasse por diversos gêneros artísticos. Sua deidade mais conhecida, Cthulhu, se tornou seu maior símbolo, estampando selos, aparecendo em tatuagens, papéis de parede, camisetas e até mesmo virando chaveiro ou pelúcia. Entretanto, por anos foi ignorado um lado sombrio de Lovecraft que, por incrível que pareça, sempre foi muito explícito, com exceções de algumas edições de livros que preferiam suprimi-lo. Estamos falando do ódio de H.P. Lovecraft aos estrangeiros, a todos aqueles que não pertenciam a uma casta pretensamente ariana na sociedade estadunidense da década de 1920. Este ensaio não busca simplesmente problematizar o racismo dentro da obra de Lovecraft. Busca também indagar se a xenofobia faz parte da criação narrativa do autor. Suas linhas são recheadas de poesia, que, por meios líricos, descreve de forma preconceituosa as minorias imigrantes que habitavam os Estados Unidos no início do século XX. Teria Lovecraft se utilizado do racismo como uma ferramenta literária?

“A população é um emaranhado e um enigma incorrigível; elementos sírios, espanhóis, italianos e negros chocam-se uns com os outros, e fragmentos de cinturões escandinavos e norte-americanos não vivem muito longe. Trata-se de uma babel de sons e sujeira lançando exclamações estranhas para responder ao barulho das ondas oleosas nos molhes imundos e às ladainhas monstruosas dos apitos do porto. Muito tempo atrás se vivia um quadro mais aprazível, com marinheiros de olhos claros nas ruas mais abaixo e lares de bom gosto e solidez onde as casas maiores acompanham a colina. […] dessa confusão de putrescência material e espiritual, as blasfêmias de uma centena de dialetos investem contra o céu. Quando as hordas de vagabundos vagam sem destino gritando e cantando pelas vielas e ruas movimentadas”.

O trecho acima pertence ao conto “Horror em Red Hook”, da autoria de H.P. Lovecraft e publicado em 1927 na revista Weird Tales. O caráter preconceituoso do autor para com o bairro e as pessoas que nele habitam se encontra nessas entrelinhas de maneira indiscreta, mas a mera exposição de passagens repugnantes não é o objetivo desse ensaio. Lovecraft foi um exímio criador de terror atmosférico dentro de seus contos, característica que lhe consagrou dentre outros escritores do gênero em sua época. Com base nesse fato, esse livro traz o seguinte questionamento: qual é o papel da xenofobia enquanto geradora do terror atmosférico em contos de H.P. Lovecraft?
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